Fobias, perturbações de pânico e stress pós-traumático vão ter uma nova ferramenta terapêutica: a realidade virtual.
A investigação e desenvolvimento da tecnologia está a ser feita em conjunto pelo Hospital Júlio de Matos e Universidade Lusófona, podendo vir a estar disponível já no início de 2006.
«A realidade virtual é o meio caminho entre a situação fóbica real e uma muito aproximada», explica o psicoterapeuta José Pacheco, do Hospital Júlio de Matos. Com a ajuda de um capacete que projecta imagens tridimensionais «a pessoa é confrontada com o medo sem ter de sair do consultório».
Nas perturbações em que é impossível voltar ao momento traumático, como por exemplo a guerra, este método dá a «oportunidade de ser recriada a situação para que o doente seja confrontado». «Os cenários virtuais estão muito próximos da realidade, vamos até aos mais pequenos pormenores», conta José Pacheco.
De acordo com Pedro Gamito, da Universidade Lusófona, a grande vantagem é a rapidez do tratamento. Em vez de a pessoa ter de ganhar coragem para enfrentar o medo, é logo «imersa» no estímulo fóbico. «É um modo rápido de interacção com o mundo e com os seus receios», conclui.
A terapia é acompanhada por um psicólogo que controla todas as reacções, incluindo as físicas, como o batimento cardíaco. «O doente tem sempre o domínio da situação, a qualquer altura pode pedir para parar se vir que está a atingir os seus limites», explica José Pacheco. O tratamento tem uma duração prevista de oito sessões, em que a intensidade do estímulo fóbico vai aumentando. No entanto, «cada caso é um caso e vai depender do doente, da fobia e da gravidade da situação», esclarece o psicólogo.
Pedro Gamito salienta que a «realidade virtual só por si não é uma terapia», é apenas mais uma ferramenta que vem ajudar o tratamento. «A pessoa pode ser acompanhada ao mesmo tempo por um psiquiatra que estipule, por exemplo, uma medicação», acrescenta José Pacheco.
O novo método está a ser desenvolvido há dois anos por uma vasta equipa que engloba psicólogos, psiquiatras, neurologistas e engenheiros. Tudo foi «construído de raiz» num investimento conjunto da Universidade Lusófona e do Hospital Júlio de Matos. «Em Portugal não há dinheiro para a pesquisa», queixa-se o psicólogo. «Pedimos alguns apoios e responderam-nos que era muito caro e que não tinha bases suficientes.»
Por enquanto o projecto ainda está a ser «afinado». «Nós não queremos fazer estudos com simulações como se faz nos outros países», afirma José Pacheco. «A nossa intenção é aplicar em doentes e chegar a resultados práticos». Segundo Pedro Gamito, as avaliações que já foram feitas revelam um «feedback bastante positivo» por parte dos pacientes. «Das poucas vezes em que os abordámos sobre a realidade virtual a maioria prontificou-se logo a experimentar.»
As primeiras grandes apostas deste projecto vão para o medo de voar e os traumas de guerra. De início, a realidade virtual estará apenas disponível no Hospital Júlio de Matos, mas «uma vez desenvolvida a tecnologia, a terapia poderá ser partilhada a outros centros hospitalares», confirma o psicólogo.
Portugal Diário
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