sábado, novembro 13, 2004

A Crise na Costa do Marfim

CM 10-11-2004
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal anunciou hoje que criou um gabinete de crise, para acompanhar a situação na Costa do Marfim. Esse gabinete integra a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, a Embaixada de Portugal em Dakar (Quénia) e a Embaixada de Portugal em Paris (França).

De acordo com o mesmo comunicado, hoje divulgado, foi feito um levantamento do número de portugueses residentes na capital económica da Costa do Marfim, Abidjan, graças aos serviços de uma antiga funcionária da extinta Embaixada de Portugal naquela cidade.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros apurou que residem em Abidjan 42 portugueses e que desses apenas 11 manifestaram o desejo de partir imediatamente.

Com o apoio da célula de crise da Embaixada de Espanha em Abidjan, os 11 portugueses partiram hoje daquela cidade com destino a Madrid, a bordo de um avião espanhol.O mesmo avião da Força Aérea Espanhola transportou cidadãos espanhóis e norte-americanos. Durante o dia de hoje, a Força Aérea Francesa colocou quatro aviões em Abidjan, para recolher estrangeiros. Cerca de 600 franceses embarcaram nos dois primeiros voos, que à hora desta notícia já tinham descolado de Abidjan. Além dos espanhóis, dos portugueses, dos norte-americanos e dos franceses havia ainda australianos e canadianos no aeroporto de Abidjan á espera de embarcar. Ao todo, cerca de 800 estrangeiros abandonaram hoje Abidjan.

CM 12-11-2004

Dez cidadãos portugueses residentes na Costa do Marfim devem chegar esta manhã a Lisboa.

Este será o segundo grupo de portugueses a ser evacuado daquele país africano onde, desde há uma semana, se registam violentos confrontos.

Já ontem, onze pessoas desembarcaram no Aeroporto da Portela cansadas e com poucas certezas quanto a um eventual regresso a Abidjan.

"Não sei se quero voltar. Tenho de pensar", desabafou Isabel Branco. Estava desde segunda-feira no quartel das tropas francesas em Abidjan, capital económica marfinense. "As coisas estavam bem organizadas. Seguimos para o aeroporto num camião escoltado e embarcámos num voo da Força Aérea espanhola para Madrid".

O plural que Isabel utiliza inclui a filha, mas não o marido. "Eu estava numa viagem de negócios em Dakar, no Senegal, e vim directo para Lisboa. Estive sempre em contacto com elas", contou José Branco, depois de um abraço à família na rampa do aeroporto de Lisboa. Ao contrário da mulher, José tem poucas dúvidas sobre o futuro. "Tenho de regressar, a minha vida está lá. Não posso recomeçar tudo." Não seria a primeira vez. Em 1991, o casal teve de abandonar o Zimbabwe devido às ameaças sobre a população branca. "A minha filha nasceu lá", conta Isabel. Estavam há doze anos a morar em Abidjan, principal cidade da Costa do Marfim.

Menos habituado, António Horácio, 37 anos e funcionário de uma empresa de cerveja, foi apanhado pelos confrontos da cidade marfinense num quarto de hotel. "Tinha chegado só há dez dias e o fim-de-semana foi o pior. Não pelos tiros, mas pelos aviões ", contou o português, natural de Vale de Cambra. Sobre a situação em Abidjan, pouco conseguiu dizer. "Fui de camião e não consegui ver nada."

Carlos Loureiro, na Costa do Marfim há 14 anos, garante que "a situação é má". E o futuro, coloca-o nas mãos de Deus. "Se Ele quiser, devo regressar em Janeiro", arriscou.

MICAEL TROUXE MOCHILA
Micael Pereira, de 12 anos, nasceu na Costa do Marfim e era o mais novo dos onze portugueses que ontem desembarcaram em Lisboa. "É uma guerra... É uma pena", lamentava o rapaz, de camisola vermelha e mochila da escola às costas. Viajou com a mãe, Celeste, de Abidjan para Madrid a bordo de um avião da Força Aérea espanhola. Depois, voaram para Lisboa no TAP 701, que tocou solo português às 07h29 e a cidade marfinense tornou-se apenas uma memória.

"Não quero voltar", garantiu Celeste Pereira.

O Governo português informou, ao final da tarde de ontem, que a situação em Abidjan era de "relativa calma com a reabertura do comércio, bancos e aeroporto". Mas em Nova Iorque, o Conselho de Segurança da ONU decidiu conceder um prazo de um mês para que o governo de Abidjan resolva a crise interna e evite a imposição de sanções internacionais.

A situação no país deteriorou-se depois da morte de nove militares franceses durante um bombardeamento das tropas governamentais, alegadamente sobre grupos rebeldes, que controlam o Norte.

CRISE EM ÁFRICA VIOLAÇÕES E MORTE

Os responsáveis do exército francês confirmaram ontem que um número indeterminado de mulheres europeias foram violadas durante os confrontos em Abidjan, entre nacionalistas, forças governamentais e tropas francesas. Há também relatos não confirmados da morte de seis estrangeiros.

MEDO DE PILHAGENS

"A porta de minha casa ficou aberta. Vamos ver o que fica, mas não sei o que vou encontrar", desabafou José branco, um dos onze portugueses vindos da Costa do Marfim. A comunidade branca, disse, está a passar por um período "complicado".

COMUNIDADE REDUZIDA

Segundo informação do Ministério dos Negócios Estrangeiros português (MNE), eram 42 os portugueses residentes na Costa do Marfim, a maioria na área de Abidjan. Ontem regressaram onze portugueses e hoje devem chegar mais duas famílias, com dez pessoas.

AJUDA À CHEGADA

Um representante da Protecção Civil e um elemento do MNE estiveram ontem no Aeroporto de Lisboa. "Estamos aqui para dar todo o apoio necessário, mas estas pessoas têm família e casa em Portugal", referiu Aníbal Albuquerque, da Protecção Civil. Hoje, a equipa estará de novo na Portela.

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