terça-feira, dezembro 14, 2004

Sismo de 13-12-2004 Portugal Continental

O sismo, que alcançou uma magnitude de 5,4 graus na escala de Richter, teve origem a 117 quilómetros a sudoeste do Cabo de São Vicente (Algarve), sensivelmente na mesma região onde terá sido originado o terramoto de 1755.

O tremor foi registado às 14h16, em todas as estações meteorológicas do Continente e durou poucos segundos, tendo originado uma ‘chuva’ de telefonemas para a Protecção Civil, Bombeiros e Instituto de Meteorologia. “Recebemos telefonemas de Oeiras, Cascais, Margem Sul e de muitas zonas de Lisboa”, garantiu ao CM Luísa Senos, da Divisão de Sismologia do Instituto de Meteorologia (DSIM).

De acordo com a técnica, o sismo “foi um abalo considerável, mas faz parte da sismicidade normal registada no continente”, não tendo sido registados danos materiais. O Algarve e todo o Litoral, até Viana do Castelo, foram as regiões onde o tremor foi mais sentido.Na zona de Lisboa, o abalo atingiu entre os 4 e 5 graus de intensidade, na escala de Mercali. “Não houve estragos, normalmente só quando atinge os seis ou mais graus de intensidade é que há problemas”, resumiu Luísa Senos.

Ao contrário do que acontece nos Açores, o sismo de ontem não foi seguido de réplicas. A energia libertada pelo abalo foi sendo absorvida à medida que se expandia, o que minimizou os danos em terra. Mas se o epicentro se tivesse localizado a meia centena de quilómetros da capital, “já haveria alguns estragos”, explicou ao CM Fernando Carrilho, do DSIM.

Por ano são registados nas estações sismológicas do continente cerca de 1500 sismos, mas pouco mais de uma dezena são sentidos pela população.

DEFICIÊNCIAS

Lisboa é a única região do País que tem concluído o estudo de risco sísmico, mas só há pouco mais de um mês é que começou a implementar um plano especial de emergência que apenas deverá estar concluído dentro de dois ou três anos, segundo responsáveis do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil.O estudo dos riscos sísmicos da Região de Lisboa foi realizado em 1997, com base em dados de 1991, o que implica uma revisão regular, dado as mutações constantes das características populacionais.Por sua vez, o Algarve, ainda não viu concluído o estudo de riscos sísmicos, iniciado há cerca de seis anos, devido à falta de verbas para a sua continuação, apesar de ser uma das principais zonas sísmicas portuguesas.

Para as restantes zonas do País não foram ainda feitos quaisquer estudos de risco sismico.

Por outro lado Carlos Rebelo, professor do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra disse recentemente, nas XIII Jornadas de Prevenção e Segurança na Floresta de Betão, que Portugal dispõe de regulamentação anti-sísmica para os edifícios, “ao nível das melhores do mundo”. É essencial, no entanto, que ela seja correctamente aplicada, pelo que deverá haver maior empenho na reciclagem e actualização profissional dos técnicos de construção”, acrescentou.

FALHA DO TEJO ESTÁVEL

A Falha do Vale Inferior do Tejo já provocou dois sismos bastante destrutivos: em 1531 foi Lisboa que ‘caiu’ e em 1909 a vila de Benavente ficou destruída. De acordo com Fernando Carrilho, do Departamento de Sismologia do Instituto de Meteorologia, a falha “está num período de menor actividade, em comparação com o passado”.

O sismo registado ontem teve origem na Planície Abissal da Ferradura, vizinha do Banco de Gorringe (local tido como epicentro do sismo de 1755). “É um local de choque entre as placas africana e euro-asiática, que estão sempre em compressão”, expecifica Fernando Carrilho. Um sismo com a magnitude de 6 graus, no local onde o sismo de ontem teve origem, já provocaria “pequenas fendas nas construções” da Capital.

in Correio da Manhã

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