Photo: Lilian Liang/PlusNews |
Pelo fim da violência contra mulheres |
Não à toa. Essa norte-americana de Washington DC construiu sua carreira internacional ao redor do tema e fala com autoridade sobre dinâmicas de poder, diferenças entre sexos e vulnerabilidade feminina, citando estudos e destrinchando números.
O que ela não sabia é que ela mesma entraria nas estatísticas em 2007. Foi nesse ano que ficou grávida de sua primeira e única filha. Foi nesse ano também que ela se tornou vítima de ataques de raiva de seu então parceiro, com quem se relacionava há um ano.
A violência começou no seu sétimo mês de gestação, quando seu parceiro jogou comida em seu rosto. Os abusos verbais e físicos recomeçaram três horas depois do nascimento de sua filha.
"Eu fiquei três dias e meio em trabalho de parto, estava exausta. Eu o acordei, pedindo que ele cuidasse um pouco dela. Ele teve um ataque de fúria num estalo, dizendo ´Sua p**a, eu vou te dar uma surra´", lembra.
Outras ocorrências seguiram. Numa delas ele atirou um vidro de creme de amendoim em sua cabeça porque ela cogitou contratarem uma babá para meio-período.
A violência contra mulheres e como engajar homens e meninos para combatê-la é um dos temas centrais do 1º Simpósio Global Engajando Homens e Meninos pela Igualdade de Gêneros, que acontece entre 30 de Março e 03 de Abril no Rio de Janeiro, Brasil.
Da negação para acção
Prova de que o assunto está longe de ser fácil foi o facto de a pergunta de Handrahan ter ficado sem resposta após ela ter compartilhado brevemente sua história em público - num simpósio cujo objectivo é exactamente discutir tais questões.
"O primeiro passo para o maior engajamento dos homens é que eles escutem e reconheçam que o problema existe", destacou. "Eles precisam parar de negar. Só porque um homem não comete a violação não significa que ele não tenha responsabilidade."
Citando o caso recente de uma menina de nove anos no Brasil, submetida a um aborto para interromper a gravidez de gêmeos, resultado de repetidos estupros pelo padastro, Margareth Arilha, directora executiva da Comissão de Cidadania e Reprodução do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, defendeu mais sinergias no debate público.
Eu o acordei, pedindo que ele cuidasse um pouco de nossa filha. Ele teve um ataque de furia num estalo. |
Tudo isso, porém, passa primeiro por uma mudança na compreensão da masculinidade e nas referências que identificam o homem, como de que homens devem ser agressivos ou usar a força para provar a virilidade.
Ines Alberdi, directora executiva do Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento das Mulheres (UNIFEM), destacou ser essa a norma em zonas de conflito, onde a violência sexual e o estupro são usados como armas de guerra e instrumentos de poder.
"Na reunião do Conselho de Segurança no ano passado, um dos presentes disse que era mais perigoso ser uma mulher do que um soldado nas áreas de conflito", afirmou. "Para mulheres, um acordo de paz não representa o fim da violência."
"Os papéis de mulheres e homens e as relações de gênero são definidos socialmente, portanto é possível mudá-los", completou.
Embora o envolvimento dos homens já seja reconhecido como fundamental para a igualdade de gêneros, o caso de Handrahan mostra o longo caminho pela frente.
Ela deixou o pai de sua filha e hoje está numa batalha judicial pela guarda da criança. O juiz que avaliou o caso da primeira vez declarou que Handrahan "não tinha credibilidade e tinha um problema com a realidade".
Todas as suas economias foram gastas com advogados e hoje Handrahan conta com a solidariedade de amigos para pagar as despesas do processo. Com menor disponibilidade para viajar por causa da filha, ela corre o risco de perder o emprego.
"Muita gente deixou de falar comigo, ninguém quer ouvir essas coisas", lamentou. "Uma coisa é ser um caso no campo, outra é ser algo que acontece com alguém próximo de você."
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