domingo, abril 19, 2009

Quando a violência nos chega à porta

Já devem ter ouvido falar no assalto à bomba de gasolina de Barcarena.
Estava eu tranquilamente a jantar, eram por volta das 21 horas, quando ouvimos tiros. O meu companheiro apressou-se a dizer que eram rateres de uma mota, fiquei desconfiada mas lá acreditei. Mas os tiros continuaram, da varanda vi polícias à paisana a correr os jardins que temos em frente de casa.

repsol



Tinham assaltado a bomba de gasolina aqui ao lado, para roubarem 60 euros. Não conseguiram chegar ao cofre. Pelo que se diz na vizinhança (e geralmente nestas situações diz-se muito) a Brigada de Intervenção Rápida estava mesmo a passar por aqui. Ouvi também (virei jornalista) que um dos assaltantes se escondeu durante algum tempo dentro de um automóvel aqui parado, no porta bagagens (mesmo à filme americano).
O estranho disto tudo é que se passou aqui, não em Timor ou no Kosovo, mas no sítio onde temos a nossa segurança, a nossa tranquilidade. Ilusória diria, para mim, culpa das leis deste país terem mudado, tínhamos as prisões demasiado cheias parece.

O que importa aqui do ponto de vista psicológico e que quero partilhar com vocês, é o que se passa quando vamos em missão. A nossa segurança está sempre posta em causa. Não vamos trabalhar e voltamos à segurança do nosso lar e podemos apagar e esquecer o que aconteceu. Fazemos parte disso.
E este é o que se chama compassion fatigue, a fadiga psicológica que se pode dar no técnico por viver demasiado perto ou demasiado intensamente as situações que está a tentar ajudar.

Lembra-me também o que aconteceu em Espanha em 11 de Março. Quando do incidente, acorreram ao local muitos psicólogos. A maioria não treinada, preparada e habituada a este tipo de cenários. Fizeram a sua parte e tentaram dar o apoio necessário. O que se passou a seguir, por não estarem preparados em diversos aspectos para os acontecimentos, eles próprios passaram a ser vítimas e, precisaram eles mesmo de apoio psicológico.

Não posso deixar de pensar no que aconteceria em Portugal se tivéssemos uma situação de crise (natural, feita pelo homem, uma dessas). As primeiras horas é o caos normal de uma situação assim, demora cerca de 4 horas às forças no terreno para se organizarem. Penso logo que os meios de comunicação não têm estrutura para aguentar uma situação destas (lembro-me da expo 98 ficarmos sem rede de qualquer dos operadores). Como comunicamos com os nossos? Como sabemos se eles estão bem?

Sem ser alarmista, a verdade é que vivemos sobre algumas fendas, que todos já ouvimos que podemos ter outro terramoto, que aliás vamos fazer um simulacro que se chama PT Quake. E o que cada um de nós enquanto cidadão já fez para se preparar para este cenário? Provavelmente nada ou muito pouco.

Quando lá estive fora aprendi a viver sobre um fio, que a qualquer momento poderia ter de ser evacuada. É algo que nos trabalha os mecanismos de protecção e sobrevivência, podemos fazer curso, mas outra coisa é viver na pele.

Claro que há muito a fazer, que cada um de nós pode pensar. E para já, é isso que quero de vocês que lêm isto...que pensem.

Soluções tenho algumas mas falamos delas outro dia.

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