Photo: Anthony Kaminju/IRIN |
Linguagem insensível cria estigma |
"Quando ouvimos pessoas a fazer piadas com o HIV, sem se importarem com o facto de poder haver alguém no grupo que seja seropositivo, sentimo-nos deslocados e somos levados ao isolamento. Alguém está a nos matar sem saber", disse William Kisia *, 22, um estudante seropositivo.
"Esses jovens podem estar a usar essas palavras não necessariamente para criar estigma entre seus colegas, mas para facilitar a comunicação entre si; entretanto, estigma é criado no processo, sem que as pessoas que usaram tais palavras o saibam", afirmou Maurine Olel, coordenador da Unidade de Controlo da SIDA na Universidade Maseno.
"Estamos a trabalhar com clubes de estudantes, líderes estudantis e outras parcerias para assegurar que os estudantes sejam (...) sensíveis aos seus colegas que talvez sejam seropositivos", acrescentou. "Quando se cria estigma, outros esforços direccionados à luta contra o HIV tornam-se difíceis de serem implementados."
Alguns dos termos de calão da língua Kiswahili, comumente usados por universitários para referirem-se ao HIV, incluem: "mdudu", palavra que se refere a um bichinho rastejante; "huyu jamaa anatuacha", que significa "este rapaz está a deixar-nos"; "ogopa", que significa medo, usada por rapazes para referirem-se a mulheres seropositivas; "huyo jamaa amekanyaga live wire", equivalente a "aquele rapaz pisou num arame farpado", eufemismo para referir-se a alguém que fez sexo desprotegido e contraiu HIV.
"A pessoa para quem você está a contar sobre outra pessoa seropositiva usando esse tipo de linguagem pode também ser seropositiva, e você pode estar a magoá-la sem perceber. Nós precisamos parar de usar uma linguagem tão pejorativa para descrever os outros", disse Evelyn Wanderi, que recentemente participou de uma oficina sobre linguagem estigmatizante.
"Imagine ser seropositivo e ouvir alguém dizer que uma pessoa seropositiva é um cadáver ambulante; isso mata emocionalmente e fisicamente - mata o espírito", disse ela. "Aqueles que sabem de sua condição e desejam revelá-lo, nunca o farão, e aqueles que não sabem irão manter distância da possibilidade de descobri-lo - essa é a maneira mais acertada para se perder a batalha contra o HIV".
Rosemary Wambui, psicóloga e conselheira na Unidade de Controlo da SIDA na universidade, observou que "os estudantes geralmente estão cientes sobre o HIV, mas é importante combater o estigma (...) e o que o causa, incluindo a linguagem, porque esta pode levar ao silêncio e negação, grandes obstáculos na luta contra o HIV".
O Ministério da Saúde e a Comissão de Ensino Superior estabeleceram parceria com I Choose Life Africa, uma ONG que trabalha com gerenciamento e controlo de HIV entre estudantes universitários, num programa que treinou cerca de quatro mil educadores de pares. Diversas universidades, incluindo a Maseno, agora têm cursos obrigatórios sobre o HIV que devem ser frequentados por todos os alunos como pré-requisito para a graduação.
*nome fictício
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