domingo, junho 26, 2005

Stress atrás do volante, perigo constante

A grande maioria dos acidentes que ocorrem nas estradas derivam do stress e da ansiedade de todos os condutores, que utilizam o carro como uma extensão do corpo e o asfalto como um local de "escape" para os seus sentimentos, raivas e frustrações reprimidas. A teoria é de Carlos Poiares, psicólogo criminal e professor na Universidade Lusófona, que defende uma maior firmeza por parte das autoridades na estrada e uma maior participação da psicologia neste processo - através de testes psicológicos no acto de tirar a carta ou após infracções graves, de acompanhamento especializado nas Brigadas de Trânsito ou até da presença de psicólogos nas estações de serviço.

Numa conferência dedicada ao tema e realizada no passado dia 16 de Junho, este professor catedrático expôs a sua série de teorias sobre os desvios criminais na estrada, ideias que «tiveram o apoio de magistrados presentes» e que estão inclusive na base de um trabalho que o especialista está a realizar com o Instituto de Reinserção Social. Nelas, o psicólogo explica como a forte mortalidade nas estradas de Portugal se deve em grande parte a comportamentos «absurdos» que a maioria dos condutores enceta, como forma de escape para uma ansiedade que é controlada em todos os outros lados menos ali. «A estrada é um espelho da sociedade, mas no seu pior. Porque as pessoas estão no trabalho e estão controladas por causa do chefe; estão em casa e tentam ter calma, porque é família. Mas chegam à estrada e é como se fosse o seu mundo, onde tudo é permitido, incluindo extravasar comportamentos por vezes agressivos que não teriam noutro lado», explica.

Para o psicólogo, «hoje em dia os carros são claramente uma extensão das pessoas», algo que se pode verificar aliás «pelo dinheiro que é gasto a comprar os últimos modelos, os veículos mais caros, sempre como forma de expressão de poder».
Essa expressão de poder manifesta-se depois também no asfalto, onde acabam por ocorrer as centenas de acidentes diários, muitas vezes mortais.

Jornal A Capital

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