terça-feira, julho 05, 2005

Fogo em Mafra IV

"As chamas pararam ontem às portas da Malveira, em Mafra, depois de consumirem mato, floresta e gado. Alimentado por um vento fortíssimo e inconstante, o fogo, ainda por circunscrever ao início da noite, ficou a poucos metros do centro da vila, não dando descanso aos 505 bombeiros e 163 veículos deslocados para o local.

No balanço, somam-se oito bombeiros feridos, uma viatura destruída e todos os 17 lobos ibéricos resgatados. O fumo era visível em Lisboa, a 40 quilómetros do local do fogo.

A gravidade da situação, que ainda mantinha ao fim do dia de ontem uma frente activa em Monte Gordo e outra na Malveira, obrigou a cortar estradas e a accionar o Plano Municipal de Emergência da Protecção Civil de Mafra. Uma instituição de apoio à terceira idade, na Malveira, também foi evacuada como "medida de precaução". Na Tapada de Mafra, o fogo terá devastado 20 hectares e no Centro de Recuperação do Lobo Ibérico foi preciso evacuar os 17 animais desta espécie protegida.

Gil Ricardo, vice-presidente da câmara de Mafra, fez o balanço ao início da noite "80% do perímetro de incêndio está em fase de rescaldo e, apesar do círculo ardido ter uma dimensão significativa, existem grandes ilhas intactas, o que se deve aos ventos cruzados."

Além dos 505 homens de 62 corporações, foi instalado no local um posto avançado do INEM, com seis médicos, quatro enfermeiros, oito tripulantes de ambulância e um psicólogo. Dos oito bombeiros - seis de S. Pedro de Sintra - que tiveram assistência médica, dois dos quais devido a um acidente de viação, três apresentavam queimaduras com gravidade intermédia, tendo sido transferidos para o Hospital São Francisco Xavier.

O pânico instalou-se às cinco da tarde, com as chamas a aproximarem-se velozmente da Malveira. Situada num vale, a vila assistiu, em poucos minutos, ao incêndio que começou ao meio dia no Picão e que vinha de longe, abeirar-se das suas casas. "Já fechei tudo. Mas tenho tanto medo...", comentava Maria do Céu, a cara chamuscada, depois de ter regado o barracão onde guardava as máquinas agrícolas e o gado. "Ali metia respeito...", desabafava alguém por perto. Os bombeiros, situados em redor das habitações, tentavam conter a fúria das chamas que desciam a encosta a grande velocidade, alimentadas por um vento ensurdecedor.

A densidade do fumo não permitia avistar mais do que uns escassos metros nem perceber o avanço e a direcção do fogo. Do outro lado de uma pequena estrada, outro grupo de bombeiros protegia uma fábrica de papel, enquanto os vizinhos regavam as redondezas.

Em Vale da Guarda, onde o fogo deflagrou, o posto de comando permanecia sobressaltado ao fim da tarde. Posteriormente, seria deslocado para serra de Santa Maria, na Malveira. Moreira Vicente, comandante operacional distrital, estimava circunscrever o fogo em pouco tempo. Ferreira do Amaral, director da Autoridade Nacional para os Incêndios Florestais, confessava, apontando para uma bandeira que esvoaçava, nunca ter presenciado um vento tão incontrolável. E temia uma noite de sobressalto, perante um cenário de continuação de vento e pouca humidade. As casas estavam perto.

Nota: Diario de Noticias, 5 de Julho de 2005

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