segunda-feira, setembro 05, 2005

Bombeiros não sabem apagar incêndios

Apesar da dedicação e esforço» dos bombeiros a deficiente formação» deste pessoal em matéria de incêndios florestais é responsável «por alguns pontos fracos» no combate às chamas, conforme garante o Livro Branco dos Incêndios, realizado em 2003, pelo Ministério da Administração Interna.

O estudo destaca o facto de os soldados da Paz estarem «demasiado dependentes do uso da água enquanto substância extintora», em detrimento de outras técnicas, nomeadamente, a construção de corta-fogos. Lembra o relatório que os rescaldos mal feitos provocaram em 2003, mais de 700 reacendimentos.

Recorde-se que esta semana uma equipa de bombeiros chilenos entregou um relatório ao Ministro da Administração Interna em que enunciava precisamente este problema.

A participação das Forças Armadas na prevenção e detecção de incêndios florestais, a criação de uma frota de meios aéreos própria destinada ao combate aos fogos, bem como a implementação de um sistema de telecomunicações moderno e eficaz que sirva todas as entidades envolvidas na prevenção e combate aos incêndios florestais são outras prioridades elencadas.

Aliás, no que aos meios aéreos respeita, o relatório sublinha que o problema não passa exclusivamente pela quantidade de unidades disponíveis, mas sobretudo pela «qualificação dos pilotos para este tipo de trabalho», bem como pelo «modo como, no teatro de operações, se desenvolve a coordenação dos meios aéreos».

«Na verdade, os especialistas em coordenação de meios aéreos não abundam, pelo que, em incêndios florestais de grandes proporções, alguns pilotos chegaram a operar por sua conta e risco, sem instruções do posto de comando operacional», refere o Livro Branco.

Em relação aos meios terrestres, o mesmo estudo criticava «o abandono do local de trabalho para abastecimento em estações de serviço, não aconselhável, tendo em conta o tempo que demora entre a saída e o regresso ao teatro de operações» e defendia outras soluções que permitissem a permanência dos meios no local.

A utilização de «estudantes» no combate às chamas vinha «agravar a situação». Referia o trabalho que «muitas equipas, principalmente de rendição, eram constituídas por elementos dos corpos de bombeiros muito jovens, ainda em período de formação básica pluridisciplinar ou em instrução preparatória, isto é, aspirantes e cadetes, que, eventualmente estariam mais disponíveis».

De tudo isto voltou a falar-se durante o Verão de 2005. E como bem lembrava, esta semana, o Ministro da Administração Interna, António Costa, «todos os relatórios que foram feitos nos últimos anos, nomeadamente os que foram encomendados aos americanos, e o livro branco do anterior Executivo que é muito bom, dizem-nos que as nossas falhas passam pela forma como combatemos os incêndios e não exclusivamente pela falta de meios aéreos».

Os peritos norte-americanos também sabem que o diagnóstico está há muito feito. Por isso mesmo fizeram questão de referir, no estudo entregue em 2004, que «este relatório sucede a três relatórios elaborados por especialistas norte-americanos em fogos florestais, respectivamente em 1982, 1996 e 2003. Muitas das recomendações são comuns aos quatro relatórios. É então pertinente questionar o valor real que Portugal dá ao seu território florestal e rural». E deixavam a pergunta: «A protecção das áreas florestais e rurais é uma prioridade nacional?»

Nota: PortugalDiário, 05 de Setembro de 2005

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