quinta-feira, março 31, 2005

Combate à epidemia de dengue

Militares e polícia timorenses já foram mobilizados

Os militares e a polícia timorenses vão participar no combate à epidemia de dengue, que fez já 35 mortos entre os quase 800 casos registados, anunciou hoje o ministro da Saúde de Timor-Leste.

Lusa


Em declarações à agência Lusa, Rui Araújo indicou que a participação dos militares e da polícia decorre da decisão tomada hoje em Conselho de Ministros, que aprovou o Plano Integrado de Combate ao Dengue.

"Decidiu-se estabelecer a Comissão Nacional de Combate ao Dengue, e fez-se a apreciação do Plano Integrado que vai reforçar as actividades que têm sido desenvolvidas até agora", destacou.

As componentes em que o Plano Integrado se vai basear são quatro e prevêem o reforço da divulgação das medidas de sensibilização da população e a intervenção nos espaços públicos.

"É aqui que reside o principal problema. A intervenção mais eficaz devia ser feita no domínio da saúde pública, designadamente no saneamento básico", precisou Rui Araújo.

O ministro lamentou o muito que ainda falta fazer neste capítulo, porque, quanto a medicamentos e apoio médico e clínico, o país está preparado.

Dengue, malária e pneumonia

"Pensamos que na componente médica e clínica está-se a fazer alguma coisa", salientou, assinalando que o país também está preparado para fazer face aos crescentes casos de malária.

"Há medicamentos suficientes para todo o tipo de malária que é detectado em Timor-Leste. O nosso problema é que certas combinações de medicamentos estão a demonstrar sinais de resistência, em virtude de o tratamento não ser bem controlado pelos profissionais de saúde", frisou.

Rui Araújo acentuou, contudo, que, logo que se resolva a questão do saneamento básico, a situação melhorará significativamente.

"É o dengue, a malária, mas não só. Neste momento temos também vários casos de pneumonia. Os peritos dizem que se trata de infecções virais, que têm a ver também com o meio ambiente em que as pessoas vivem. A questão do saneamento básico vai resolver muitos problemas de saúde pública", sustentou.

O ministro da Saúde disse ainda que a Comissão Nacional de Combate ao Dengue hoje criada em conselho de ministros integrará representantes das estruturas governamentais, mas a execução das actividades vai ser feita em parceria com a sociedade civil e, sobretudo, as instituições religiosas.

776 casos de epidemia de dengue

Relativamente ao número de casos de dengue já registados, Rui Araújo precisou que, até hoje de manhã, tinham sido confirmados 716 doentes, 35 dos quais morreram desde a detecção do primeiro caso, no passado dia 05 de Janeiro.

"Os dados dizem respeito a esta manhã, mas creio que já há mais casos. De acordo com os médicos, é a partir das 14 horas (06h00 em Lisboa) que dão entrada mais casos nos hospitais", referiu.

Rui Araújo observou ainda que a presença na baía de Díli do USNS Mercy, um navio-hospital norte-americano, se deveu a uma "coincidência".

"O navio esteve em Aceh, no apoio às vítimas dos sismos e do maremoto de 26 de Dezembro e no regresso aos Estados Unidos pensou-se que deveria estar por cá uns dias a dar algum apoio humanitário, colmatando eventuais necessidades dos nossos hospitais e dos nossos especialistas", explicou.

Lixo por recolher alastra epidemia

Nos bairros de Díli mais atingidos pela epidemia de dengue, a imagem mais marcante é a do lixo acumulado que não é recolhido, havendo locais, nos bairros de Bécora, Caicoli, Ai-Mutin, Audian, entre outros, em que a recolha não se faz há duas semanas.

Por exemplo, no mercado de Caicoli, a recolha do lixo é efectuada apenas uma vez por semana.

A justificação para esta situação assenta na falta de equipamento da Administração de Díli (Câmara Municipal) para efectuar a recolha e transporte das cerca de 15 toneladas de lixo doméstico produzidos pelos 170 mil habitantes da capital para a lixeira de Tibar, a cerca de 15 quilómetros.

O lixo doméstico deveria ser colocado pela população em espaços espalhadas pelos bairros e criados durante a ocupação indonésia.

Estes espaços, rectangulares, com paredes da altura de 1,10 metros, apresentam em muitos casos sinais evidentes de destruição e abandono, com o lixo a acumular-se no interior e em volta, à mercê de animais à solta como porcos e cães, que mais ajudam a espalhá-lo.

A Administração de Díli contava com quatro camionetas de caixa aberta para recolher as cerca de 15 toneladas produzidas diariamente, mas presentemente conta apenas com duas, que são alugadas a empresas para apanhar o lixo e transportá-lo até Tibar.

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