segunda-feira, agosto 15, 2005

Uma dor que não passa

"Estas coisas dão-nos vontade de atirar a toalha ao chão, mas temos que ser mais fortes e continuar a nossa missão". As palavras do comandante dos Bombeiros Voluntários de Oliveira de Azeméis, Jorge Pereira, minutos depois do funeral do jovem bombeiro Bruno Santos, que faleceu na passada sexta-feira, quando seguia para o combate a mais um incêndio, reflectiam o sentimento generalizado do ambiente que, ontem, se vivia no quartel daquela corporação.

Os comentários que se ouviam por entre as dezenas de bombeiros e centenas de pessoas que ali se deslocaram para assistirem ao funeral, dividiam-se entre a frustração da perda inesperada de um jovem que, "fugia da escola para ir para os bombeiros", e a necessidade de "haver coragem para seguir em frente apesar de só se lembrarem de nós nos momentos de aflição ou quando morremos", desabafava um bombeiro idoso de uma corporação vizinha.

Num ambiente de grande consternação e pesar, os responsáveis máximos da corporação escusavam-se a tecer grandes comentários sobre a falta de apoios, mas entre a população local e alguns bombeiros havia quem não calasse a revolta.

As palavras mais sentidas foram as do pai do bombeiro falecido. Na hora da descida da urna à terra, o pai gritava bem alto a sua dor. "Para que é que vêm aqui estes políticos, só aparecem nestas alturas mas nunca fazem nada. É tudo um negócio de dinheiro".

A poucos metros encontrava-se o ministro António Costa, que acompanhou toda a cerimónia fúnebre e se escusou a fazer qualquer tipo de comentário para a Imprensa.

Também entre a população, os políticos eram motivo de críticas. Marques Mendes, que um dia antes esteve no local, foi igualmente visado. "Parece impossível, veio ver o rapaz morto e aproveitou a ocasião para fazer críticas a José Sócrates; isto é um aproveitamento político inadmissível", comentava um animador de rádio bem conhecido na região. O presidente da Associação Humanitária, António Gomes, garante que a família está a receber todo o apoio, "possível". Uma ajuda que, neste primeiro momento, passa essencialmente pelo apoio psicológico que está a ser dado à família.

Visivelmente agastado com a perda de "um homem que gostava de mais dos bombeiros", garante que Bruno estava coberto pelo seguro, mas lembra que "os seguros são irrisórios para uma situação destas".

Dois elementos dos Bombeiros Voluntários de Oliveira de Azeméis são psicólogos e são eles que têm estado a dar apoio à família e a alguns dos seus colegas."Os próximos dias serão dolorosos", afirmava o comandante sobre a morte do bombeiro. Mas o momento parece não ser, teimosamente, de optimismo em relação aos dois bombeiros que ainda se encontram em estado grave nos Cuidados Intensivos do Hospital S. António, na cidade Porto.

Todos se recusam a aceitar que os colegas não recuperem. Mas a fazer fé nas palavras do presidente da Direcção, as últimas noticias sobre o seu estado de saúde não são animadoras.

Nota: Jornal de Noticias, 15 de Agosto de 2005

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